O Dia das Curvas
O dia levantou-se com sol, mas o vento que nos tinha feito companhia ontem ameaçava com trazer-nos a chuva.
Houve tempo para fazer as ultimas verificações, tomar o pequeno almoço e montar tudo na mota.
Hoje era um dia importante, com muitos km em solo espanhol e milhares de curvas há nossa espera.
A ocidente uma enorme massa de nuvens cor desastre apressava-se em vir ao nosso encontro mas felizmente o vento de momento ajudava a evitar que estas se pusessem a chorar….
Paragem para descansar e tentar roubar uma lasca destes calhaus para fumar!
Quer dizer….
Houve alguém que pensou em leva-lo dentro do top case!
Chegados à Aldeia Histórica de Monsanto, ainda com o sol a ajudar, o Carlos voltou à carga com aquilo do equilíbrio dinâmico da câmara e tal….
A foto ficou muito boa, mas isto porque estava presente a Maria das Curvas.
Monsanto esta erguida na encosta de uma monte, com o Castelo no topo.
Pela sua conservação e localização é daqueles sítios que devemos visitar com tempo, sem olhar a agenda do dia ou para o céu…
Aqui o granito impera, serve de alicerce as casas, doa a pedra das paredes e ajuda a que o monte não seja tão íngreme.
Se a isto juntamos as cores da primavera o resultado é simplesmente sublime.
Nestas paragens existem sempre surpresas agradáveis….
Ninguém estava à espera de encontrar o irmão do Patrão por aqui, mas prontos, ainda estivemos na letra um bocadinho!
O Marco estava radiante!
Seria dos snifs que deu no calhau lá em baixo!?
Monsanto permite imagens assim, mas aqui o que preocupa são as nuvens!
E o Carlos insistia!
Desta vez não teve tanto êxito, mas a sua persistência esta a fazer com que, apesar de desenquadrada, esta foto não esteja tremida….. (valha-nos isso)
Monsanto estava finiquitado, era tempo de sair à estrada e rumar ao Sabugal, fugindo das nuvens.
Não conhecia as estradas, mas a curiosidade de passar pela Reserva da Malcata fez-me oreintar o grupo para lá.
É certo que passamos de raspão, mas as paisagens e as estradas deixaram aquele sabor agridoce. Devíamos ter esquecido Sabugal e explorar a Area Protegida.
Uma vez com o Castelo de Sabugal à vista, por unanimidade e com muitas nuvens negras à mistura, decidimos não visitar o castelo e rumar com destino a Espanha.
Em Foios a chuva surpreende-nos com uma escaramuça.
Tivemos que parar porque as meninas do costume não podem apanhar uma só gota de chuva….
Como não podia deixar de ser, o empedrado fazia sempre o obséquio de marcar presença sempre que entravamos numa povoação.
Será que o Carlos ainda acredita que as suas “cases” aguentam a viagem toda!?
Apesar de um dia sisudo, eu animava o pessoal, prometendo-lhes muitas curvas e que tivessem calma que o tempo ia melhorar e tal….
Chegados a Navasfrias a estrada passa de manto sublime a estrada caminho de cabras. Cinco quilómetros de treme-treme, metidos no meio de uma neblina fria que molhava tudo o que se mexia, até que de repente….
Era verdade o que tinha apregoado, as estradas da Extremadura são das melhores para a pratica do moto-turismo, mas a chuva matava a esperança de que pudéssemos curtir as curvas que se avizinhavam.
Dez quilómetros de uma descida retorcida, que a cada curva o piso ia secando e eu ia-me animando a curtir cada vez mais. Atrás de mim o Diogo, que seguia as minhas trajectórias. A estrada foi secando há medida que descíamos e a parte final já foi feita a pleno pulmão, com o sol a despontar por entre as nuvens.
Ao final, apesar do Diogo contabilizar a gasolina que tinha e ser urgente abastecer os animais, a cara de satisfação era evidente em todos.
Era de facto uma delicia de estrada, com ganchos, curvas rápidas e paisagens de beleza superior.
Esperem só até verem as curvas de Batuecas!
Depois de abastecer a estrada continuou a oferecer-nos curvas de qualidade, mas desta feita para toadas muito mais rápidas. Contudo o estômago avisava que as horas avançavam e também era necessário repor forças.
Depois de uma primeira tentativa falhada, encontramos um restaurante que tinha uma mesa livre.
Era tempo de descansar e saciar o estômago.
O Michel estava metido na dinâmica de viajante e solicitou o mapa do Marco.
O objectivo era lançar as bases de uma segunda RIM e acordar que os que estávamos ali, seriamos os responsáveis por organizar e fazer passar o espírito desta edição às outras vindouras.
E a minha sepia (pota) até soube melhor, animado pela confrontação de ideias, todas elas positivas.
Quando voltamos à estrada, as nuvens ainda lá estavam, o vento soprava e a montanha que deviamos subir não estava no horizonte. No seu local estava um agromerado de nuvens cor negro mijão….
A chuva não nos deu descanso, começou a cair quilometros antes de Batuecas e era tão intensa que levou o Michel a duvidar do sucesso da missão:
-Escuta Michel- expliquei- Estamos a meio do caminho, se voltamos para tras não existe forma de escapar da chuva. A chuva que apanhamos para cá , vamos apanha-la para lá!
Resignado Michel concordou e lá seguimos caminho!
Ainda bem!
Ao começarmos a subir o Mini Stelvio de Batuecas a chuva parou, o vento empurrava as nuvens para longe e lá no fundo já se podia ver a Penha de Francia.
Isto era o que nos esperava por subir, curvas sem parar, embora que com a estrada molhada, a boa noticia é que já não chovia.
A vegetação cobria um emaranhado de asfalto, que se tratava de uma só estrada, que se retorcia para vencer a montanha.
-É para ali que vamos! Ali esta a Penha de Francia e se apanharmos o céu limpo as vistas são brutais!
Ei-la, a moto mais azul do grupo, pousando no pelourinho da Penha de Francia, a mais de 1700m de altitude e com um frio de rachar.
As paisagens que vos prometi.
Algumas delas com sombras rocambolescas por causa das nuvens e do tempo instavel!
Salamanca, algures no vasto horizonte!
O nosso caminho seguia, mais ou menos, pelo meio desses montes!
As protagonistas alinhadas na despedida ao Santuario da Penha de Francia.
Antes de irmos, ainda houve tempo para avistar e contemplar umas cabras montesas que pastavam penduradas (literalmente) no abrupto da montanha.
Era hora de ir, baixar a cotas menos frias e visitar o ultimo objectivo deste dia, que ja ia longo.
A estrada revelou-se difícil, estreita e esburacada, mas permitiu-nos deslumbrar de um espectáculo de luz e sombra, com o sol a jogar as escondidas com as nuvens, deixando a sensação de que valeu a pena sofrer as agruras de uma estrada má para presenciar esse espectáculo.
Esta é uma imagem perfeitamente censurável, mas deixo-a estar para que conste que sim, já estive montado em cima de uma Tanqueta.
Aqui o grupo, à entrada da Plaza Mayor.
Ciudad Rodrigo merece uma visita com calma, a cidade é muito bonita.
O objectivo era aquecer as mãos, e o corpo, porque estávamos literalmente congelados.
Um Café quente ajudaria muito a atingir esse objectivo.
De Ciudad Rodrigo a Vilar Formoso para jantar.
O que aconteceu nesses 35km de percurso é segredo dos deuses e mesmo que haja gente a jurar de pés juntos que passou por ali um grupo de motas a mais de 200km/h negarei até à morte!
O Carlos, depois de jantar e conforme planeado, despediu-se do grupo para ir dormir a casa dos seus papas! Segunda-feira era dia de trabalho para ele.
A noite acabou numa animada e interessante tertulia com o Johnny.
Foi um verdadeiro prazer Johnny, espero ver-te mais vezes e desta feita acompanhar-te numas curvas pela serra. Aproveito para desejar-te a melhor sorte do mundo e que a vida te proporcione muitas curvas sempre a curtir.